Enquanto o podre coitado se erguia (quase chamei um guindaste), um homem sisudo todo vestido de Padre se aproximou, perguntou se alguém ali era da família, ao que uma velha senhora lhe disse que o falecido não tinha filhos ou família, cabisbaixo perguntou do que tanto ria-mos, a mesma senhora lhe contou a história, ele riu timidamente e tomado por um sorriso se apresentou como Capelão Oliveira do Exército Brasileiro, sisudo e formal, contou que serviu no quartel do Rio de Janeiro, onde o Doutor Zé também havia servido e lá escutou muitas histórias, como das inúmeras reclamações sobre o menino matuto que não sabia nada da vida e vivia fazendo as coisas pros outros recrutas, apanhava de soldado a general, pior que burro velho empancado na estrada, todos diziam que ele mais parecia uma topeira (todos riram).
Uma das historias que mais ouvia na época de quartel além das reclamações do recruta dezenove (número do doutor Zé no quartel), era a do dia que um certo Coronel linha dura resolveu fazer uma visita surpresa no quartel, cinco horas da manha os guardas e oficiais empurraram a porta do alojamento aos berros, tinha tanto oficial com estrelas no uniforme que parecia o céu em noite de lua, inspeção minuciosa e silêncio sepulcral, alguns berros pra variar e o pior aconteceu, no fim do alojamento o sargento grita: “—Senhor! Recruta 19 ausente, Senhor!” O Coronel olha e não acredita, cama arrumada, farda no armário, botinas engraxadas, tudo certo e como deve ser, extraordinário, mas cadê o recruta? Chama a Policia do Exercito, trás os cães e coloca os recrutas pra procurar e reviraram o quartel de cima a baixo em quatro horas e nada, nem sinal do recruta dezenove. Acontece que naquele dia (23 de Abril) era o dia de São Jorge, santo de devoção do recruta dezenove, como o quartel ficava muito longe da cidade, Doutor Zé resolveu deixar tudo arrumado e sair na madrugada pra ir até a Igreja e rezar, menino do interior quando viu a festa esqueceu que tinha mãe ou pai, que tava no exercito e ficou até anoitecer. Quando acabaram os festejos conseguiu uma carona de volta pro quartel e ao chegar foi recebido com voz de prisão, jogaram o dezenove no cadeia e foram avisar o coronel, ninguém tinha tomado café, almoçado ou comido qualquer coisa e nem iriam até achar o recruta dezenove, quando o Coronel perguntou onde ele estava o Doutor Zé (recruta) disse que tava na festa de São Jorge e mostrou a medalhinha que tinha comprado, o Coronel ficou tão chocado que não acreditou, gritou esbravejou quebrou até o dedo mindinho da mão direita de tanto bater na mesa, mas o recruta era tão “topeira” que o Coronel acabou acreditando, já mais calmo mandou soltar o dezenove e mandar servir a comida, estavam todos tão aliviados do recruta estar vivo que nem lembraram de dar um castigo e os demais de comerem que até lhe agradeceram por ter voltado.


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