...isso é apenas um ensaio...

"Tudo Vale a Pena Quando a Alma não é Pequena!"
Fernando Pessoa

segunda-feira, 26 de abril de 2010

promessa



Um dia qualquer, de um ano qualquer, em um lugar igualmente esmo, sentado a beira da cama um homem aguarda o raiar do dia. Pela janela apenas a escuridão e os murmúrios próprios da noite, no peito o coração guarda fiel a ultima decisão, a mente inquieta elabora planos, refaz caminhos, desconsidera a matéria e se projeta no infinito.  Amanhece o dia, os primeiros raios da aurora invadem ainda tímidos os olhos adormecidos, lá fora o ruidoso mar se impõe, uma brisa invade o ambiente despertando os sentidos ainda latentes. Ao passar pela porta e trancá-la, um temor invade o peito cercando o coração de aflição, um instante de dúvida, uma última resolução, porta fechada mochila na costa a partida retarda,  algo ficou para trás, sobre a mesa repousa uma carta, um endereço preciso, uma foto inexata.  Na garagem diante da barbara , uma Harley-Davidson verde oliva, modelo WLA3 de 1943, que sobreviverá a 2ª. Guerra Mundial, uma confissão que guarda um pedido, vira-se e entra no veiculo. A portão de madeira se fecha e pelo retrovisor ficam para trás moto e a casa, diante dos olhos somente a estrada. O percurso é curto, não dura mais que algumas horas pela estrada que serpenteia à beira mar, antes porém, uma parada demorada no bosque que se estende até o mar. Enfim o destino, o sol está alto e brilha incandescente, poucas nuvens no céu, os olhos percorrem o lugar, até então desconhecido, amplo e florido de tal sorte que  visão não alcança o fim, um cortejo se aproxima,  indiferente a dor do homem, um menino se aproxima, pergunta alguma coisa, inaudível murmúrio, tendo o silencio como resposta se distância.  Adiante uma viúva chora diante do sepulcro da filha, percorrendo o lugar, tendo na mão a carta busca encontra o preciso lugar, por fim diante de si um sepulcro de pedra, idêntico ao da fotografia. Um anjo armado guarda o jazigo da família, ajoelha-se e reza diante da Virgem Maria, lágrimas se interpõe aos soluços, deposita ali as poucas cinzas que resta,  encerrando assim uma antiga promessa.
“... quando meu espírito se libertar deste corpo, doa o que se quiser aproveitar e o resto creme logo que puder, uma missa mande rezar e minhas cinzas em parte lance ao mar, junto a uma semente no bosque outra parte enterre e o restante deite ao lado da mulher que minha vida dediquei, única mulher que amei.”

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